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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Texto Narrativo – A Aia

Ficha Formativa sobre o conto "A Aia"
Lê com atenção o excerto do conto "A Aia", de Eça de Queirós.

No entanto, um grande temor enchia o palácio, onde agora reinava uma mulher entre mulheres. O bastardo, o homem de rapina, que errava no cimo das serras, descera à planície com a sua horda, e já através de casais e aldeias felizes ia deixando um sulco de matança e ruínas. As portas da cidade tinham sido seguras com cadeias mais fortes. Nas atalaias ardiam lumes mais altos. Mas à defesa faltava disciplina viril. Uma roca não governa como uma espada. Toda a nobreza fiel perecera na grande batalha. E a rainha desventurosa apenas sabia correr a cada instante ao berço do seu filhinho e chorar sobre ele a sua fraqueza de viúva. Só a ama leal parecia segura, como se os braços em que estreitava o seu príncipe fossem muralhas de uma cidadela que nenhuma audácia pode transpor.
Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no seu catre, entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre lajes, como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria, avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos de armas...

Eça de Queirós, «A Aia», in Contos


1. Localiza o excerto no conto.
2. Apresenta o assunto do texto.
3. Recorrendo ao manual, indica a acção que sucede ao texto transcrito.
3.1. Justifica a importância da mesma acção.
3.2. Indica o que provocou toda esta situação.
4. Refere os modos de representação do discurso presentes no texto, justificando a tua resposta.
(Em caso de dúvida, consulta a página 218 do manual.)
5. Identifica a referência temporal presente no excerto.
5.1. Indica outras acções importantes no conto que tenham a mesma referência temporal.
6. Apresenta os informantes espaciais existentes no excerto e conclui acerca deles.
7. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase: «Uma roca não governa como uma espada.»
8. «Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente,sobre as lajes como um fardo.»
8.1. Transforma o seguinte excerto numa oração subordinada temporal: «Depois houve um gemido [...]».
8.2. Analisa sintacticamente a oração transcrita em 8.1.
8.3. Identifica a subclasse do verbo (transitivo/intransitivo).
8.4. Classifica morfologicamente as palavras a negrito.
9. Retira do texto exemplos de três figuras de estilo.

SOLUÇÕES
1. Este excerto situa-se no desenvolvimento, parte da acção em que são narradas as peripécias.
2. No primeiro parágrafo, o narrador realça o medo que reinava no palácio, não só por ser governado por uma mulher, mas também pela ameaça do tio bastardo; no segundo, destaca o pressentimento de que algo de grave ia acontecer.
3. Temendo pela vida do pequeno príncipe, a aia trocou as crianças, colocando o príncipe no berço de verga e o seu filho no berço de marfim.
3.1. Ao expor o seu filho à morte, a ama salva o pequeno príncipe e, consequentemente, o seu reino.
3.2. Esta situação foi desencadeada pelo tio bastardo, que, levado pela ganância e crueldade, atacou o palácio.
4. No primeiro parágrafo, predomina a descrição, uma vez que a maioria dos verbos se encontram no pretérito imperfeito («enchia», «reinava», «ardiam», «faltava»), avançando a história mais lentamente. No segundo parágrafo, a dinâmica da narrativa altera-se pela sucessão rápida de acontecimentos, bem patente na utilização abundante de verbos no pretérito perfeito («adivinhou», «sentiu», «escutou», «houve», «descerrou», «avistou»).
5. A referência temporal está presente no início do segundo parágrafo — «uma noite».
5.1. Os acontecimentos mais relevantes decorrem durante a noite, nomeadamente a partida do rei e o nascimento das duas crianças.
6. No texto, estabelece-se uma clara oposição entre o palácio — espaço interior onde se concentra a acção e que está agora à mercê do irmão do rei — e o exterior, dominado pela horda que descera das serras — local alto e de vigia — para atacar as populações que viviam na planície.
7. A roca está associada ao trabalho feminino, simbolizando, neste contexto, a mulher que agora governava o reino, isto é, a rainha. A espada, por seu turno, é um símbolo da bravura e da virilidade, representando o rei que morrera. Através desta comparação, o narrador pretende dizer-nos que a rainha não possuía as mesmas capacidades governativas que o seu esposo, nomeadamente num momento crítico como aquele que então se vivia no palácio, uma vez que o irmão bastardo do rei se preparava para o atacar.
8.
8.1. Quando/Logo que/Assim que houve um gemido…
8.2. «Depois» — complemento circunstancial de tempo.
«houve um gemido» — predicado (verbal).
«um gemido» — complemento directo.
Nota: o sujeito é inexistente, uma vez que o verbo «haver» tem o sentido de «existir».
8.3. O verbo é transitivo directo.
8.4. «tombando» — verbo «tombar» no gerúndio (forma nominal); «molemente» — advérbio de modo; «sobre» — preposição simples; «as» — determinante artigo definido, feminino do plural.
9. Enumeração — «E além, ao fundo da galeria, avistou homens,um clarão de lanternasbrilhos de armas […]; dupla adjectivação — «[…] corriam passos pesados e rudes […]; comparação — «Uma roca não governa como uma espada.»


Fonte: http://letrongas.blogspot.pt/




Mais e:  http://mestrefinezas2010.wordpress.com/9-%C2%BA-ano/

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