Cena III
- Onzeneiro: O segundo personagem a ser inquirido que ao chegar à barca do Diabo descobre que o seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o dinheiro, tenta convencer o Diabo a deixa-lo retornar, mas acaba cedendo às exigências do julgamento.
Símbolo que o caracteriza: Saco do dinheiro.
Argumentos de acusação: O onzeneiro é acusado de ser parente do Diabo; usar de maldade para explorar os mais pobres; de ser ganancioso e materialista.
Argumentos de defesa: O onzeneiro usa como argumentos de defesa o facto de ter tido uma morte súbita; ter o bolsão/saco vazio e de Satanás o ter cegado.
Recursos estilísticos:
- Pleonasmo:
“Ora mui muito m´ espanto…”
- Aliteração:
“Hou da baça! Houlá! Hou! Haveis logo de partir?”
Percurso cénico do Onzeneiro:
Cais ® Barca do Inferno ® Barca da Glória ® Barca do Inferno ® Embarca
Cena V
- Sapateiro: representante dos mestres de ofício, que chega à embarcação do Diabo carregando os seus instrumentos de trabalho: as formas e o avental. Engana na vida e procura enganar o Diabo, que espertamente não se deixa levar pelos seus artifícios.
Símbolos que o caracterizam: Formas de sapatos e o avental.
Argumentos de acusação: O sapateiro é acusado de ter morrido excomungado; de ter calado dois mil enganos; de ter roubado o povo com a sua profissão; enfim, não vivia honestamente.
Argumentos de defesa: O sapateiro usa como defesa, para não embarcar na barca do Inferno, o facto de ter dado dinheiro à igreja e de ter mandado rezar orações pelos defuntos, enquanto era vivo.
Recursos estilísticos:
- Anáfora:
“E as ofertas, que darão? E as horas dos finados?E os dinehrios mal levados…”
- Ironia:
“Santo sapateiro honrado!Como vens tão carregado?”
Percurso cénico do Sapateiro:
Cais ® Barca do Inferno ® Barca da Glória ® Barca do Inferno ® Embarca
Cena VI
- Frade: Como todos os representantes do clero, focalizados por Gil Vicente, o Frade é alegre, cantante, bom dançarino e mau carácter. Acompanhado da sua amante, o Frade acredita que por ter rezado e estar ao serviço da fé, deveria ser perdoado ao fogo do Inferno. Gil Vicente crítica fortemente o clero, acreditando este ser incapaz de pregar as três coisas mais simples: a paz, a verdade e a fé.
· Símbolos que o caracterizam: Uma moça, um broquel, uma espada e um casco debaixo do capelo.
· Argumentos de acusação: O Frade é acusado de ter folgado com uma mulher; ser infiel perante a igreja pois era dado aos prazeres do mundo e também é acusado de roubo.
· Argumentos de defesa: O Frade usa como defesa o facto de ser da corte; de usar o hábito e de ter rezado os salmos.
· Recursos estilísticos:
- Perífrase:
“Pêra aquele fogo ardenteque nom temestes vivendo.”
- Ironia:
“Devoto padre marido,haveis de ser cá pingado…”
· Percurso cénico do Frade:
Cais ® Barca do Inferno ® Barca da Glória ® Barca do Inferno ® Embarca
Cena X
- Enforcado: Chega ao batel acreditando ter o perdão garantido pois o seu julgamento terreno e posterior condenação à morte o teriam redimido dos seus pecados, mas é condenado também a ir para o Inferno.
· Símbolo que o caracteriza: Corda ao pescoço.
· Argumentos de acusação: O enforcado é acusado de ter sido ladrão e de ter sido condenado à morte.
· Argumentos de defesa: O enforcado usa como defesa o facto de ter sido condenado à morte e enforcado, segundo ele os que morrem assim são livres de Satanás.
· Recursos estilísticos:
- Anáfora:
“Disse que era o Limoeiro,e ora por ele o salteiroe o pregão vitatório;e que era mui notório…”
- Ironia:
“Entra cá, governarás atá as portas do inferno.”
· Percurso cénico do Enforcado:
Cais ® Barca Do Inferno ® Embarca
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